Odete era uma linda jovem que vivia alegre no campo com sua família. Um
dia, um feiticeiro que morava na região encantou-a na forma de um cisne
branco. Assim sendo, durante o dia, ela era a rainha dos cisnes e à
noite voltava a ser a bela moça.
Como podia a mãe de Odete aceitar tamanha desventura? Desolada, sem
saber o que fazer, ela caiu num choro demorado. E chorou, chorou… Chorou
dias e noites. Derramou tantas lágrimas que deram para formar um lago
cristalino num vale que havia nas proximidades da casa. Durante o dia,
quem passasse pela região avistava, à beira do recente lago, um belo
cisne coroado, quem sabe o mais belo cisne que já havia visto.
Com o tempo, outros cisnes foram chegando por ali. Eram moças da
redondeza também encantadas pelo feiticeiro. Os que conheciam o
feiticeiro contavam que ele tinha uma filha de nome Odile e que, segundo
ele dizia, em breve, ela se casaria com aquele que seria o rei daquele
país. Presumia o bruxo que, enfeitiçando as moças daquela terra, o
príncipe acabaria se encontrando com sua filha.
Chegou o dia do aniversário de 21 anos do príncipe e, conforme estava
determinado desde que ele nascera, durante a festa de comemoração, ele
escolheria entre as convidadas aquela que seria sua esposa. Entediado
com tal obrigação, o príncipe saiu para caçar com seus amigos. Havia
ganhado um novo conjunto de arco e flechas e queria experimentá-los.
Cavalgando pelo campo, os caçadores acabaram se deparando com o recente
lago e o príncipe logo foi atraído pela elegância dos cisnes que estavam
lá a mergulhar. Num instante, ele viu-se atraído por um cisne que usava
uma coroa na cabeça.
Impressionado com a beleza do lugar, o príncipe decidiu parar por ali
para descansar. Acomodou-se e pediu aos amigos que não atirassem suas
flechas. Em pouco tempo, o sol se põe e de repente o lago dos cisnes
fica rodeado de belas moças vestidas de branco. Então, uma jovem de rara
beleza se dirige ao príncipe e lhe conta sobre o encantamento. De dia,
ela e as companheiras eram cisnes e de noite voltavam a ser as moças que
eram antes. E que havia apenas uma forma de ela se tornar mulher para
sempre. Para isso, ela teria que se casar com um moço que lhe fosse fiel
para sempre.
Enquanto conversava com a moça, o príncipe se viu perdidamente
apaixonado. A noite foi passando e quando chegava a hora de o sol
iluminar o dia, o príncipe agiu ligeiro. Disse-lhe que ela era a sua
escolhida convidou-a para festa que seria dada no castelo na noite
seguinte.
O feiticeiro, ah, o feiticeiro. Aquele era o seu tão esperado dia. Não
seria aquele cisne coroado que haveria de lhe atrapalhar. Seguro de que
restavam poucas moças casadouras naquele reino, usou de sua magia e fez
com que a filha Odile se tornasse semelhante a Odete. Comprou-lhe um
belo traje a rigor e conduziu-a para a festa com a obrigação de
conquistar o príncipe.
Naquela noite, o castelo recebeu a mais bela decoração de todos os
tempos. Acompanhadas de suas famílias, as candidatas a princesa
chegavam, cada uma mais suntuosa do que a outra. De braços dados com o
pai feiticeiro vestido para uma cerimônia real, chegou Odile, toda
faceira, certa de que aquele era o seu esperado dia. O príncipe, que
havia visto a amada apenas uma vez e sob o clarão da lua, acreditou que
aquela fosse a moça cisne. Dirigiu-se a ela e lhe fez juras de amor
eterno. Nessa hora chegou Odete. Ao vê-lo sorridente a dançar, sente-se
traída. Como podia ser? Seu encanto nunca seria quebrado… Num momento, o
príncipe percebe o olhar desolado da moça que acabava de chegar e sente
que havia jurado amor eterno a uma pessoa errada.
Ao ver a troca de olhares, o feiticeiro pressente que o maior negócio de
sua vida estava prestes a se arruinar. Então, aproveita de sua força
para fazer com que Odete desapareça do salão voando pela janela. O
príncipe, ao ver a amada naquele voo, corre até a janela e se atira
atrás dela. Pede-lhe perdão e, juntos, caminham até ao lago dos cisnes.À
beira do lago, o príncipe lhe faz juras de amor eterno. No entanto, ela
sabendo que estava condenada a ser cisne para sempre por causa do
encantamento, em desespero, pula dentro do lago. O príncipe a segue,
pois nada mais lhe importava. Se o amor não podia ser realizado, ele
morreria junto com a amada.
Dizem que, neste momento, o feiticeiro perdeu todo o seu poder e todas
as companheiras do lago se tornaram livres do feitiço. Elas contaram
que, ao amanhecer, meio a uma suave neblina, viram os espíritos dos
apaixonados sobrevoando o lago.
E. T. A. Hoffmann